Recentemente Pedro Arroja escreveu no seu blogue, num artigo sobre a obra de Chesterton, que "ninguém se converte ao catolicismo por argumento intelectual". No mesmo artigo é referido que o dom de Chesterton para a apologética, apesar de admirável, não é suficiente para levar as pessoas à conversão. Se é óbvio que a Fé, mais do que a Razão, é o factor principal para que alguém se junte à Igreja, a verdade é que o discurso de Chesterton não é meramente intelectual. A sua mensagem é, acima de tudo, uma mensagem do Bom Senso, do Senso Comum. Ao mesmo tempo, Chesterton recupera para o Senso Comum o sentido religioso, dogmático e anti-plutocrático da expressão - Chesterton é de facto do apóstolo do Senso Comum, ao mesmo tempo no sentido democrático e no sentido cristão da expressão. Mas a reabilitação do Senso Comum não é o único grande contributo de Chesterton, uma vez que a sua obra resgata para o Ocidente duas coisas que também lhe fazem falta: a Propriedade Privada e o Sentido do Inimigo.
O Apóstolo do Senso Comum
O Sèculo XIX, o berço histórico da obra chestertoniana, é um século de incrível movimentação intelectual para a Igreja Católica. Na teologia e na doutrina social, nomes como Joseph deMaistre, Bonald, Juan Donoso Cortés impediram que o mundo liberal pudesse acusar a Igreja Católica de defender posições obsoletas e inaplicáveis. Honoré Balzac e Juan Vázquez de Mella, cada um à sua maneira, atacaram a modernidade burguesa através da literatura e da crítica da sociedade. Politicamente, a Restauração Bourbónica, o Miguelismo e o Carlismo representaram esforços de reforma e contra-revolução que respeitavam a continuidade sagrada da Tradição. Do lado do pensamento contra-iluminista português podemos contar com José Acúrsio das Neves, insigne historiador e economista, Gama e Castro e o Marquês de Penalva. Do lado liberal católico, Tocqueville, Lord Acton e Herculano também produziram obra incrível que influencia ainda o estudo das Ciências Sociais e Humanas.
Quais foram as consequências de todo este rebuliço criador? O Concílio Vaticano I, onde a infalibilidade papal desejada por de Maistre foi finalmente estabelecida, e a bula Rerum Novarum, que estabeleceu com bases sólidas a Doutrina Social da Igreja Católica. Como ligamos Chesterton a todos estes fenómenos?
Chesterton é um dos principais nomes do Renascimento Católico Inglês. Esse movimento de intelectuais que reabilitou a imagem do catolicismo no Reino Unido teve inicio com o Cardeal Newman, conheceu o seu expoente em Chesterton e Evelyn Waugh e terminou na geração de Tolkien.
É na sociedade londrina contemporânea de Chesterton que este descobre a necessidade da ortodoxia - não aquela que intitulará, no futuro, uma das suas obras, mas da ortodoxia metafísica no geral. Numa sociedade que repele o dogma, Chesterton descobre o direito à ortodoxia. Numa sociedade em que as seitas cristãs mudam as suas crenças de acordo com o carisma dos oradores, o dogma é visto como o inimigo público, o vício dos fundamentalistas. Chesterton redescobre o dogma como fonte primeira dos valores morais de uma sociedade, que são ao mesmo tempo a estrutura e fundamento do Senso Comum, esse barómetro milenar com o qual nós medimos a liberdade racional e necessária ao bom funcionamento de um Governo em prol do Bem Comum - e esta liberdade racional é um espaço limitado de liberdade concreta e realizável, em vez da liberdade abstracta dos demagogos. É assim que Chesterton descobre o fundamento democrático do Senso-Comum, e é assim que constrói o seu anti-aristocratismo - a aristocracia, enquanto contrária ao Senso-Comum, é atreita a desigualdades, snobismos e perversões.
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