24 de fevereiro de 2012

Estado Ideal

Escrevi este artigo ontem para o blogue da Plataforma Pensar Claro (http://plataformapensarclaro.blogspot.com/2012/02/estado-ideal.html) e deixo a provocação aqui também.

As preferências políticas de Platão são conhecidas. Organizaria uma polis do seguinte modo: à sua cabeça estaria o Filósofo-Rei, aquele que é capaz de alcançar a Verdade que habita no mundo das Ideias e apenas ao alcance dos filósofos; os Guardiões assegurariam a segurança interna e a protecção externa; e os Trabalhadores conceberiam os bens e serviços para a sociedade.

O regime é este embora a sua justificação seja mais extensa. Trata-se de uma Aristocracia na acepção helénica, original: o poder dos melhores. A degeneração política desembocaria, em ordem crescente de doença, no seguinte: Timocracia, o poder dos Nobres (o menor dos males); Oligarquia; Democracia; e Tirania.

Animado por estas proposições, também eu apresento o meu estado ideal: a Teocracia em que o Clero administra espiritualmente e as comunidades, chefiadas pelos seus pastores, se organizam materialmente, ordenando assim esse grande convento que seria o Mundo. Não haveria governante porque o Santo Padre é o representante de Cristo na Terra.

Não é utópico mas é difícil; isto é uma declaração e não uma explicação. As utopias não são irrealizáveis: o que existe é preguiça e ganância. Tudo é possível.

A Democracia é o demónio da política, da sociedade e da intelectualidade no geral. Notoriamente não figura nas minhas preferências políticas. E eu podia dizer tudo isto em qualquer regime, escusam de tentar atirar-me aquela fábula do "só podes ser anti-democrata porque estás em democracia". O que importa é assumir as consequências, isso é que é liberdade.

Como dizia D. Manuel Falcão, Bispo de Beja, o comunismo é uma "ideologia simpática". O comunismo é uma forma exacerbada de Absolutismo. Pelo menos o comunismo prático: a sucessão soviética fez-se por filhos ou "enteados" políticos. Mas para os mais cépticos, atentai na Coreia do Norte. E acompanho D. Manuel Falcão porque gosto do Absolutismo; e ao contrário daqueles que regurgitam "gostas do Absolutismo se fores tu o Rei" eu solicito a sua atenção para a vida em família, uma simpática forma de Absolutismo dos tempos modernos; eu sou filho, note-se. "Gosto disto".

E também me merece a mais profunda estima o Feudalismo. Agora os críticos mais acirrados dir-me-iam que estou em contradição: como posso estimar simultaneamente o Feudalismo e o Absolutismo, o "primus inter pares" e o "l'Etat c'est moi"? Quem disse que era em simultâneo? Platão organizou os regimes e eu também tenho o meu pódio: em primeiro lugar a Teocracia; mas sei que o Homem é tentado, conforme escrevi acima, pela preguiça e pela ganância pelo que o menor dos males seria o Absolutismo. À falta de melhor venha o Feudalismo se bem que com tamanha multidão de poderes a estabilidade dos Povos vê-se ameaçada por cartéis espirituais, pseudo-intelectuais e materiais, senão repare-se que um dos grandes veículos dos Protestantismos ou do Iluminismo foi a Nobreza. Mas, mais uma vez, respeito o Feudalismo: quando não há capacidade de centralizar o poder valem mais os pequenos absolutismos do que a Democracia que é lixo.

O grande problema da teoria política é a vigilância dos poderes ("quem guardará os guardas?", adaptando o espírito da retórica), resolvido que está, acham, a questão da organização política das sociedades. Apregoa-se a descentralização e os regionalismos, exigem-se reformas administrativas profundas e os órgãos de soberania tornam-se feiras: meus caros, o mal não está na centralização mas sim na corrupção; e entre a corrupção e a centralização ainda está a ignorância do terreno. Por muito honesto que seja o nosso governante, no geral não sabe o preço do café... para bom entendedor meia palavra basta.

Compreendo o "bom selvagem" mas não suporto as teorias que defendem que o Homem é honesto até ser exposto à tentação: se é assim tão bom não devia ser mau, "a árvore boa dá bons frutos". Só em quem não tem a certeza naquilo em que acredita é que as tentações surtem efeitos.

Não gosto de Maquiavel e todos os dias tento convencer-me que o que ele escreve é mentira porque abomino que se exponha o mal dos outros em tão grande edital. Maquiavel ofende a Humanidade pela desabrida forma com que a acusa de deslealdade. Mas talvez este tenha razão. Vejamos um exemplo familiar de maquiavelismo político (atenção que maquiavelismo não é maldade mas sim teoria política de Maquiavel): o Estado Novo (já Pombal é maquiavélico não por seguir Maquiavel mas por ter sido um indivíduo maldoso). O professor António de Oliveira Salazar sabe que os seus seguidores podem ser tentados, desconfia da sua lealdade; até António Ferro conheceu isso, já para não falar de Aristides de Sousa Mendes, um homem da confiança de Salazar mas que desobedeceu às directivas. O Estado português era mais importante do que as relações entre os ministros e os homens do governo propriamente ditas; a população portuguesa precisava de confiar absolutamente no seu Governo e o concerto não podia desafinar por melhor que fossem as intenções pessoais. No maquiavelismo político não há "brainstormings" de gabinetes, não há originalidade e diversão, não há psicoterapia de grupo nem vitórias pessoais muito menos iniciativas particulares: há o Estado e os seus servidores.

Não gosto de Maquiavel porque quero discrição na crítica o que não mais é do que caridade e respeito pela imperfeição que nos pode tocar também. Mas reconheço-lhe todos os méritos políticos na sobrevivência do Estado e alguns dos seus intérpretes, como Salazar, souberam tornar-se mais discretos.

Mas ninguém me tira que se eu fosse muçulmano seria iraniano. Mas pela graça de Deus sou católico numa Europa secular, laica nas parangonas (melhor, anti-cristã), libertária e contrária à verdadeira liberdade.

A Liberdade é um estado espiritual e não físico e dependente do próprio, não de terceiros. Somos livres quando sabemos distinguir a bondade e a maldade de um acto suportando as respectivas consequências. Não somos livres quando fugimos às responsabilidades nem quando ignoramos o que fazemos.

Este é o nosso tempo por muito que idilicamente o rejeitemos. Provavelmente não conseguiremos fazer retornar o Feudalismo; dificilmente instalaremos o verdadeiro Absolutismo e ainda mais a Teocracia. Mas a utopia não é irrealizável.

Confio na honestidade do ser humano, a Teocracia só funcionará se não houver interesses pessoais nas chefias.

28 comentários:

  1. No Irão há uma teocracia - as utopias são realizáveis.

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  2. Sempre pode ir para lá viver e comprovar in loco a bondade do tal sistema político teocrático e de um Estado ideal...

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  3. Garanto que ia ter interessantes surpresas, e, em pouco tempo, estaria a escrever aqui no blogue as pungentes saudades dessa coisa pós-moderna chamada liberdade religiosa e Estado laico...
    Ei, espera, num Estado teocrático não há liberdade de expressão nem sequer blogues, muito menos pessoas com outra religião que não a do Estado, pelo que o mais provável é que acabasse apedrejado como blasfemo...antes de postar uma palavrinha
    :))

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  4. Caro Bluesmile,

    Antes de mais espero que Bluesmile não se refira à cor clubística porque na minha teocracia Deus é benfiquista...

    Mais concretamente quanto às simpáticas observações que teceu, recolho com agrado a exequibilidade das utopias. Mas infelizmente no segundo comentário resvalou para a crítica destrutiva: eu disse no meu texto que seria iraniano se fosse muçulmano mas sou católico (quarto parágrafo a contar do fim). No terceiro comentário entra em choque com as condições de crítica que eu proponho (inversamente) no quinto parágrafo e estimo a amabilidade da sua releitura.

    Por fim, este meu texto não faz a apologia da República Islâmica do Irão pois penso que é uma teocracia a que falta algum desbaste. Noutro texto, mais para a frente, sintetizarei algumas características acerca da minha teocracia e terei todo o gosto em discuti-la com o Bluesmile.

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  5. O Irão é um bom sítio para se viver. Bom sistema de saúde pública, moralidade pública saudável, moeda forte, bom nível de salários para trabalhadores especializados, dos maiores salários mínimos da região. Óptima produção artística e cultural, independência energética, economia pujante.

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  6. Embora compreenda aonde o meu ilustre colega de blogue pretende chegar, pessoalmente não utilizaria conceitos como “teocracia” e “absolutismo” pelas confusões a que os mesmos se prestam.

    No campo político, a primeira e principal preocupação de um católico, a “utopia” que este deve procurar é a construção de uma ordem social cristã, na qual tudo seja instaurado em Cristo. Ora, esta ordem assenta no princípio basilar, desconhecido pelas teocracias, da existência e separação de dois poderes: o espiritual e temporal. O primeiro trata das coisas de Deus e compete ao clero; o segundo das coisas de César pertence aos governantes terrenos, e será democrático ao nível local, aristocrático ao nível provincial e monárquico ao nível nacional. E sem prejuízo de tais poderes terem áreas distintas de acção, daqui não resulta que o poder temporal possa agir em desconsideração da lei divina e da lei moral ou natural; pelo contrário, na sua acção aquele está sempre vinculado ao acatamento destas. A total independência da acção do poder temporal face às leis divina e moral é fantasia da moderna democracia jacobina e não tem cabimento numa ordem política cristã, razão por que ao poder temporal cumpre conformar toda a sua actuação legislativa e executiva com as referidas leis divina e moral, bem como zelar pela protecção da única religião verdadeira - a Católica - e pela salvaguarda do culto desta, tolerando tão-só na esfera privada, sem manifestações públicas e de quaisquer proselitismos, o professar das restantes religiões.

    Assim, não podemos estar aqui mais longe do chamado Estado laico, realidade repetida e insistentemente condenada pelo magistério de Papas como Gregório XVI, Pio IX, Leão XIII, São Pio X, Pio XI e Pio XII, e que na verdade mais não é do que um disfarce do Estado verdadeiramente jacobino e ateu, onde a vontade humana é erigida em único e absoluto estalão da legitimidade da actuação política, num todo conducente à ditadura totalitária do relativismo, negação acabada, invertida e satânica da ordem social cristã.

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  7. "O Irão é um bom sítio para se viver. Bom sistema de saúde pública,."
    Que interessante análise, caro Manuel; mas muitíssimo distorcida. Pois o Írão tem um péssimo sistema de saúde pública e indicadores de saúde absolutamente catastróficos quando comparados com as Democracias laica ocidentais, Portugal inclusive.
    Um dos indicadores de qualidade de vida do país é relativamente simples - a taxa de mortalidade infantil no Irão é catastrófica, dez vezes mais elevada que em Portugal. Uma coisa é certa - a qualidade de vida , a qualidade do sistema de saúde e os níveis dedesenvolvimento de um país é directamente proporcional aos direitos das mulheres nesses país.Por exemplo, no Irão, mais de 18% da população vive muito abaixo do limiar de pobreza. Na Noruega, 0%.

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    1. Meu caro Bluesmile, permita-me uma resposta directa: o maior testemunho da qualidade de vida, o mais directo, o mais simples e o mais lógico é provavelmente a taxa de suicídios. E enquanto os países nórdicos - e a Noruega - estão à frente dessa funesta corrida, o Irão segue bem atrás...

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    3. BLUESMILE, não pode criticar um regime por falhas estruturais que são naturais à peculiaridade de uma região. O investimento de países como o Irão na saúde tem vindo a conhecer méritos da WHO (World Health Organization).

      Não seja ingénua a ponto de interligar democracia liberal a qualidade de vida. A Alemanha nazi e a União Soviética forneciam, nas décadas de 30 e 40, melhores serviços de saúde que a grande maioria dos países ocidentais. Cuba continua a ser uma das potências no mundo dos serviços de saúde. A cobertura do serviço nacional de saúde do Irão, por muito incipente que seja em comparação à Dinamarca, cobre 94% de uma das maiores populações do Médio Oriente. Já é mais do que os EUA.

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  8. A plena aceitação do Estado Laico - uma conquista civilizacional - ( por oposição ás teocracias "pagãs) é um dado adquirido e sedimentado na doutrina católica desde as suas raízes mais remotas. Tem um excelente alicerce nas palavras de Jesus de Nazaré ( tentado ele próprio pelo poder temporal, e pela sedução ads "teocracias " fáceis) ):

    " Dai a César que é de César.."

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  9. Comparar as palavras de Jesus com a separação de poderes e a concepção de Estado, criação do século XVIII, é obra. Voltaire e Montesquieu são agora visionários da Palavra de Cristo. A BLUESMILE arranja fracos profetas.

    Acreditar que a destruição da influência da Igreja enquanto portadora da Mensagem de Cristo sobre a sociedade como uma "conquista civilizacional" é como ser japonês e dar graças ao facto de termos sido atingidos por uma bomba atómica.

    A Igreja nunca na sua história aceitou a teoria do Estado Laico - o que defendeu foi a exclusão do Estado dos assuntos da Igreja. E isso explica historicamente o conflito entre guelfos e gibelinos e a maior idoneidade da Igreja de Roma perante o poder público quando comparada Às Igrejas Orientais. Nunca negou, contudo, a devida cooperação que a Igreja de Cristo deve ter com a sociedade civil e política. Daí os soberano serem ungidos em nome da religião cristã, para servirem o Reino e a Igreja de acordo com a Palavra de Deus.

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  11. Por isso mesmo Jeus de Nazaré foi considerado por muitos não penas um "fraco profeta", mas um "falso profeta". O que lhe valeu a morte mais obscena, ás mãoss dos poderes instituídos da época - religioso incluído....

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  12. Sobre a aceitação plena do Estado laico pela Igreja Católica enquanto doutrina sólida, basta ler textos teológicos do actual papa.

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  13. Eu sei que, para muitas almas sequiosas de poder e de afirmação narcísica, o cristianismo equivaleria a poder político, roupa cintilante, tiaras e palanques, teocracias ditatoriais, ou o simples controlo sobre a consciência e comportamento dos outros. A tentação no deserto continua presente…
    Mas esta é uma versão travestida dos ensinamentos de Jesus de NAZARÉ. Pois se há algo de definitivo e universal na mensagem cristã é a absoluta predilecção pela pobreza, pela simplicidade, pela bondade “escandalosa”, pelo despojamento e pobreza evangélica, a ponto da noção e poder ser transfigurada em noção de serviço ( no seu sentido de entrega mais radical) que tem o seu "manifesto" no sermão da montanha. Sempre que a Igreja se deixou adulterar e corromper pelo poder temporal ( na suas múltiplas formas, de poder militar, doutrinário, económico, político e ideológico) mostrou a sua a face mais distorcida e perversa .
    O cristianismo está fundado no sangue dos mártires de todos os tempos – os pobres, os cansados e oprimidos, os pequeninos, os puros de coração, o sequiosos de justiça. Por isso mesmo o cristianismo não foi a religião dos imperadores, foi a religião dos escravos e das mulheres, muitos séculos antes dos éditos de constantino.

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    1. Eu sei que, para muitas almas sequiosas de poder e de afirmação narcísica, o cristianismo equivaleria a poder político, roupa cintilante, tiaras e palanques, teocracias ditatoriais, ou o simples controlo sobre a consciência e comportamento dos outros. A tentação no deserto continua presente…

      Judas Iscariotes não conseguiria dizer melhor…

      Mas esta é uma versão travestida dos ensinamentos de Jesus de NAZARÉ. Pois se há algo de definitivo e universal na mensagem cristã é a absoluta predilecção pela pobreza, pela simplicidade, pela bondade “escandalosa”, pelo despojamento e pobreza evangélica, a ponto da noção e poder ser transfigurada em noção de serviço no seu sentido de entrega mais radical) que tem o seu "manifesto" no sermão da montanha.

      O ensino definitivo e radical de Cristo é este: eu sou o caminho, a verdade e a vida! Quem não é por mim, é contra mim! Quem me ama, cumpre a lei! Quem vos ouve, a mim me ouve! Quem vos despreza, a mim me despreza!

      Sempre que a Igreja se deixou adulterar e corromper pelo poder temporal ( na suas múltiplas formas, de poder militar, doutrinário, económico, político e ideológico) mostrou a sua a face mais distorcida e perversa.

      Isto é regalismo, sistema no qual o poder temporal manda na Igreja. Não tem nada a ver com o que se discute aqui e que se refere à necessidade de o poder temporal, na sua acção, ser sempre enformado pelas leis divina e moral cristãs.

      O cristianismo está fundado no sangue dos mártires de todos os tempos – os pobres, os cansados e oprimidos, os pequeninos, os puros de coração, o sequiosos de justiça. Por isso mesmo o cristianismo não foi a religião dos imperadores, foi a religião dos escravos e das mulheres, muitos séculos antes dos éditos de constantino.

      O Cristianismo era uma religião transversal a TODA a sociedade romana, muito antes do édito de Constantino, como o comprovam os casos de santos mártires como São Clemente de Roma, Santa Cecília ou São Sebastião.

      Quanto aos mártires de todo o tempo, estranho que não se refiram os nascituros inocentes e indefesos assassinados no próprio ventre materno, vítimas do crime nefando do aborto; os idosos e dos doentes implacavelmente eliminados através da eutanásia; enfim, as crianças vítimas dos degenerados padres modernistas pedófilos, daqueles que do alto da sua hipocrisia tanto peroram contra o “pecado” do constantinismo sem todavia vislumbrarem o verdadeiro pecado em que toda a sua vida se transformou.

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  14. O Cristo que se afirma o Caminho, a Verdade e a Vida, que declara que quem não é por Ele, é contra Ele, e que diz que não veio trazer a paz, mas a guerra, um defensor do Estado laico?! Apenas por anedota - e anedota de mau gosto - se pode afirmar tal coisa.

    A Igreja, a quem Cristo prometeu auxílio constante até ao fim dos tempos, no seu magistério permanente e conforme à tradição sempre condenou o Estado laico, mero disfarce do Estado jacobino e ateu. Se o actual Papa porventura defendeu o Estado laico, ignoro tal facto, mas duvido bem que um Papa que afirma existirem princípios inegociáveis para a Igreja e os cristãos na política - http://www.zenit.org/article-10795?l=portuguese - possa defender essa coisa, ao menos com o alcance com a mesma é comummente entendida. De resto, a posição doutrinária da Igreja, que não mudou, é a plasmada na encíclica “Quas Primas” (ver ligação aqui ao lado, em documentos), do Papa Pio XI, de que Cristo é Rei e Senhor das Nações e de que tudo há-de ser instaurado n’Ele.

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  15. Caros amigos, eu não perderia muito tempo a dar importância à senhora Bluesmile. Conheço-a bem há muito tempo: trata-se de uma “troll” avessa a qualquer discussão séria e racional, que tem como forma de diversão privilegiada - qual Tullius Detritus, da “Zaragata”, de Astérix - o espalhar da confusão pelas caixas de comentários dos espaços em que intervém, especialmente se estes se identificarem com o Catolicismo tradicional e doutrinariamente ortodoxo.

    É bom de salientar que esta senhora, que se apresenta com o disfarce de católica e se presume com pesporrência moralmente superior a todos os seus oponentes, não é nem pouco mais ou menos católica. Trata-se antes de uma marxista cultural que no seu discurso, plasmado na curibeca blogosférica que administra, utiliza todo um conjunto de conceitos provenientes do pensamento cristão tradicional, porém completamente subvertidos no seu significado original, como de resto, é próprio dos infiltrados progressistas do mundo na Igreja. Ademais, defende incondicionalmente o aborto livre e a simples pedido, o emparelhamento de homossexuais, a ideologia extremista do género e dedica-se a atacar com fúria odienta todo o magistério constante da Igreja, bem como a própria doutrina de fé e moral desta.

    Assim, pelo exposto, já se vê que é peça que não merece que se perca o tempo com ela, não valendo a pena ter quaisquer ilusões em relação à mesma. Rasteira é e rasteira há-de ser.

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  16. "O princípio do laicismo, ao qual o vosso País está muito ligado, se for bem entendido, faz também parte da Doutrina social da Igreja. Ele recorda a necessidade de uma justa separação dos poderes (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, nn. 571-572), que faz eco ao convite feito por Cristo aos discípulos: "Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" (Lc 20, 25). Por seu lado, a não-confessionalidade do Estado, que é uma não-ingerência do poder civil na vida da Igreja e das diferentes religiões, assim como na esfera do espiritual, permite que todos os componentes da sociedade trabalhem juntos ao serviço de todos e da comunidade nacional. De igual modo, como recorda o Concílio Vaticano II, a Igreja não tem por vocação a gestão do que é temporal, pois, "em razão da sua missão e competência, não pode confundir-se de modo algum com a comunidade política nem está ligada a nenhum sistema político" (Constituição Gaudium et spes, n. 76; cf. n. 42). Mas, ao mesmo tempo, é fundamental que todos trabalhem pelo interesse geral e pelo bem comum. É neste sentido que o Concílio diz: "No terreno que lhe é próprio, a comunidade política e a Igreja, são independentes e autónomas. Mas ambas, embora a títulos diferentes, estão ao serviço da vocação pessoal e social dos mesmos homens. Exercerão tanto mais eficazmente este serviço para o bem de todos quanto mais cultivarem entre si uma sã cooperação" (ibid.). "
    CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II
    A D. JEAN-PIERRE RICARD, ARCEBISPO
    DE BORDÉUS E PRESIDENTE
    DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL FRANCESA

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  17. O laicismo, segundo a Doutrina Social da Igreja, entende-se sob o princípio de subsidariedade, mas não veda a autoridade moral que a mesma tem sobre o Estado secular:

    §2244 A COMUNIDADE POLÍTICA E A IGREJA

    Toda instituição se inspira, ainda que implicitamente, numa visão do homem e de seu destino, da qual deduz os critérios de seus juízos, sua hierarquia de valores, sua linha de conduta. A maior parte das sociedades tem referido suas instituições a um certa preeminência do homem sobre as coisas. Só a religião divinamente revelada reconheceu claramente em Deus, Criador e Redentor, a origem e o destino do homem. A Igreja convida os poderes políticos a referir seu julgamento e suas decisões a esta inspiração da verdade sobre Deus e sobre o homem:

    As sociedades que ignoram esta inspiração ou a recusam em nome de sua independência em relação a Deus são levadas a procurar em si mesmas ou a tomar de uma ideologia os seus referenciais e os seu objetivos e, não admitindo que se defenda um critério objetivo do bem e do mal, arrogam a si, sobre o homem e sobre seu destino, um poder totalitário, declarado ou dissimulado, como mostra a história.

    §2245 A Igreja, que em razão de seu múnus e de sua competência, não se confunde de modo algum com a comunidade política, é ao mesmo tempo sinal e salvaguarda do caráter transcendente da pessoa humana. "A Igreja respeita e promove a liberdade política e a responsabilidade dos cidadãos."

    §2246 Faz parte da missão da Igreja "emitir juízo moral também sobre as realidades que dizem respeito à ordem política, quando o exijam os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas, empregando todos os recursos - e somente estes - que estão de acordo com o Evangelho e com o bem de todos, conforme a diversidade dos tempos e das situações.

    ______

    Foi, como sabemos, ponto vital do Grande Concílio reafirmar que a Igreja é tão Mater como Magistra.

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  19. Ou seja, segundo a doutrina da Igreja Católica, a Igreja não admite qualquer poder temporal.
    È absolutamente contra a doutrina da Igreja Católica a defesa de Estados teocráticos, muito menos estados teocráticos baseados no "catolicismo".
    A Igreja Católica reconhece pleamente e respeita integralmente os Estados de Direito, Estados laicos e democráticos, com quem aliás o Vaticano mantém cordialíssimas relações diplomática e acordos internacionais.
    De resto, " a Igreja não se confunde com a comunidade política nem está ligada a nenhum sistema político (1). A comunidade política e a Igreja, no próprio campo, são efectivamente independentes e autónomas uma em relação à outra, e estão ambas, embora a diferentes títulos, ao serviço da vocação pessoal e social dos mesmos homens (2). Pode-se, antes, afirmar que a distinção entre religião e política e o princípio da liberdade religiosa constituem uma aquisição específica do cristianismo, de grande relevo no plano histórico e cultural (3).
    1 - JOÃO PAULO II, carta encícl. Redemptoris Missio, n.º 20, AAS 83, 1991, p. 267.
    2 - Cf. CONCÍLIO VATICANO II, const. past. Gaudium et Spes, n.º 76, AAS 58, 1966, p. 1099;
    3 - CONCÍLIO VATICANO II, const. past. Gaudium et Spes, n.º 76, AAS 58, 1966, p. 1099.

    Por isso a defesa de teocracias antidemocráticas ou as nostalgias de perdidos "impérios" da velha cristandade, é completamente oposta à doutrina católica.

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  20. Por outro lado, faz parte integrante da Doutrina da Igreja católica o reconhecimento dos Direitos Humanos, da dignidade da pessoa e da liberdade enquanto valor fundamental da pessoa, pelo que a defesa de qualquer regime político que não a democracia é anticatólica:

    "A igualdade fundamental entre todos os homens deve ser cada vez mais reconhecida, uma vez que, dotados de alma racional e criados à imagem de Deus, todos têm a mesma natureza e origem; e, remidos por Cristo, todos têm a mesma vocação e destino divinos. Sem dúvida, os homens não são todos iguais quanto à capacidade física e forças intelectuais e morais, variadas e diferentes em cada um. Mas deve superar-se e eliminar-se, como contrária à vontade de Deus, qualquer forma social ou cultural de discriminação, quanto aos direitos fundamentais da pessoa, por razão do sexo, raça, cor, condição social, língua ou religião. É realmente de lamentar que esses direitos fundamentais da pessoa ainda não sejam respeitados em toda a parte. Por exemplo, quando se nega à mulher o poder de escolher livremente o esposo ou o estado de vida ou de conseguir uma educação e cultura iguais às do homem." - GAUDIUM ET SPES
    Claro que ao longo de dois milénios de história a Igreja Católica se afastou muitas vezes da sua matriz evengélica e cedeu às tentações do poder temporal.
    "Ainda que a Igreja, pela virtude do Espírito Santo, se tenha mantido esposa fiel do Senhor e nunca tenha deixado de ser um sinal de salvação no mundo, no entanto, ela não ignora que entre os seus membros , clérigos ou leigos, não faltaram, no decurso de tantos séculos, alguns que foram infiéis ao Espírito de Deus. E também nos nossos dias, a Igreja não deixa de ver quanta distância separa a mensagem por ela proclamada e a humana fraqueza daqueles a quem foi confiado o Evangelho. Seja qual for o juízo da história acerca destas deficiências, devemos delas ter consciência e combatê-las com vigor, para que não sejam obstáculo à difusão, do Evangelho." GAUDIUM ET SPES

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  21. BLUESMILE, admitir um fim metafísico à realidade Estado não é negar o seu carácter temporal. É só garantir que a Palavra de Deus esteja inserida em todos os pontos da vida cristã - inclusivamente a social. A defesa actual da Igreja pela liberdade religiosa é circunstancial e tem de ser contextualizada no tempo - a época ideal em que tanto a sociedade civil como a política partilhavam dos valores católicos transmitidos pela Igreja passou, e hoje a Igreja tem de assegurar a sua sobrevivência no plano dos regimes demoliberais muitas vezes anti-clericais.

    Mais uma vez vou procurar fazer-lhe entender este ponto simples: um Estado confessional não implica a queda da distinção entre política e Igreja Católica. Nunca implicou. Ao longo da Idade Média e Moderna os conflitos entre Igreja e Estado deram-se sempre que o Estado interferia na esfera de jurisdição da Igreja. O estado moderno conseguiu privá-la de todo de esfera de jurisdição.

    Ficamos muito contentes com os links para encíclicas posteriores ao CVII, que este blogue respeita. Aconselhamos também a leitura de outros artigos. A Igreja Católica, pelo menos segundo os especialistas, é anterior aos anos 60.

    A defesa fundamental dos direitos do Homem não é um apanágio das democracias. Isso seria dizer que o Estado do Vaticano, enquanto não-democrático, é anti-católico. Isso seria dizer que a defesa de um regime político que permite a legalização do aborto e o casamento homossexual e o divórcio unilateral é ser católico - ora segundo a doutrina da Igreja Católica, não é.

    Nos impérios perdidos da velha cristandade haveria possivelmente mais respeito pela diversidade cultural - uma vez que o Estado não se tinha tornado no Leviatã da Modernidade, que Chesterton critica tão bem - do que agora, em que o próprio catolicismo, feito minoria religiosa, vê sempre em perigo o seu património e até a integridade física dos seus fiéis, como está a acontecer devido ao ObamaCare nos EUA e em Espanha, onde o PSOE já ameaçõu retaliar contra a Igreja após a sua subida ao Governo.

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  22. Caro Manuel:

    1) "A defesa actual da Igreja pela liberdade religiosa é circunstancial e tem de ser contextualizada no tempo ", como afirma. Plenamente de acordo, tal como o inverso é verdadeiro - a não defesa da liberdade religiosa tem de ser historicamente contextualizada. È óbvio que no modelo esclavagista da Europa romana imperial ou no sistema feudal de antanho, nem sequer havia a noção de liberdade religiosa ( ou de direitos humanos, já agora...). Trata-se pois de conquistas civilizacionais que a Igreja incorpora na sua doutrina porque já a intuiu há milénios - de resto há uma matriz radicalmente cristã nestas construções políticas! Não é à toa que o ideal dos Estados de Direito democráticos surgiu no coração da Europa católica!

    2 )Afirma que "A defesa fundamental dos direitos do Homem não é um apanágio das democracias."
    Ora gostaria que indicasse um único sistema político não democrático que defendesse os direitos humanos.
    Um único.

    3)Já agora o exemplo que aponta é muito sui generis. Em primeiro lugar porque confunde o conceito de Estado (), com o conceito de sistema político ( democracia versus teocracia ou ditadura ). ora estes conceitos não são sobreponíveis.O Estado do Vaticano não é um Estado em termos estritos. Em primeiro lugar porque falta ao "Estado" do Vaticano um elemento essencial ao Estado - cidadãos nacionais! O "Estado" do Vaticano nem sequer tem um verdadeiros poder político organizado, logo não tem um sistema político como os existentes nos Estados de Direito democráticos. No entanto o Estado do vaticano não é um estado teocrático muito menso uma ditadura! Está subordinado ás leis de direito internacional e em grande parte à legislação italiana ...Ao contrário do que pensa, nem no Vaticano se aplica a sharia Católica, mas as leis em vigor são comuns com a legislação do Estado Italiano e da Europa comunitária! Po exemplo, O Euro tornou-se moeda oficial do Estado vaticano, mesmo que ele não seja um estado membro da UE.
    O Vaticano, embora um Estado Soberano e Pessoa Jurídica de Direito Público Internacional, é apenas uma cidade onde está a sede sede administrativa da religião Católica. Trata-se de um construção híbrida que em nada se aproxima dos Estados teocráticos islãmicos- esses, sim, estados em plena acepção jurídica do termo....

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  23. 4 - "Nos impérios perdidos da velha cristandade haveria possivelmente mais respeito pela diversidade cultural "
    Bem, a afirmação é bastante folclórica, mas em nada corresponde á realidade histórica.
    Se contabilizar as conversões forçadas, a redução à escravatura, a tortura e morte de milhões de seres humanos à conta das tentativas de homogeneização cultural e religiosa ( um dos ambiciosos desideratos da velha cristandade)verá que foram cometidos verdadeitas chacinas e crimes contra a humanidade.
    De resto até já houve um Papa que pediu publicamente perdão por isso...

    5) "um Estado confessional não implica a queda da distinção entre política e Igreja Católica. "Claro que não implica. Um Estado confessional católico significaria a total (con)fusão ( coincidência) entre política e Igreja católica. O que é contrário à doutrina católica e à mais funda tradição da Igreja!

    6) "A Igreja Católica, pelo menos segundo os especialistas, é anterior aos anos 60." Monsieur de la Palisse não diria melhor. Mas, se ler os textos conciliares relativos á questão da liberdade religiosa e da separação Igreja/Estado , descobrirá que eles se radicam na mais vera, antiga e milenar tradição católica, com raízes nos ensinamentos de Jesus de Nazaré.

    7) "o próprio catolicismo, feito minoria religiosa, vê sempre em perigo o seu património e até a integridade física dos seus fiéis"
    O medo nunca é bom conselheiro e um católico, se tiver fé autêntica, não deve viver no medo! As "perseguições" de que fala só acontecem predominantemente nos Estados teocráticos que defende. Ou seja, nos Estados de Direito democráticos, onde há plena liberdade religiosa, os católicos não correm qualquer risco!
    por outro lado, ao contrário do que pensa, em termos estatísticos, o catolicismo não é nenhum grupo minoritário mas é a religião com maior implantação em todo o mundo! Não se trata de nenhuma minoria mas de uma maioria global! E se há sítio do mundo em que os Católicos podem exprimir livremente a sua fé e até algumas das suas perversões católicas mais disparatadas é nos EUA...

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  24. Recordo que a Constituição “Gaudium et Spes” é um dos documentos mais datados do Concílio Vaticano II, talvez mesmo aquele em que em muitas das suas passagens o espírito progressista e da hermenêutica da ruptura com o magistério ordinário constante da Igreja se evidenciou mais. Como é óbvio, tal Constituição tem natureza meramente pastoral e é desprovida de qualquer valor dogmático, razão por que não vincula minimamente os fiéis católicos em tudo aquilo que contradiz esse mesmo magistério ordinário constante e, mais latamente, a tradição católica.
    Por outro lado, os crimes do democratismo nascido de 1789 - que merecem tanta admiração dos chamados “progressistas cristãos” - são longos de mais para merecerem os respeito de qualquer católico digno desse nome e conhecedor da grandeza e superioridade históricas da civilização cristã: começando no genocídio contra a população católica da Vendeia francesa, passando pelo horror do capitalismo desregrado oitocentista, prosseguindo na estruturação doutrinária das tiranias comunista e nacional-socialista, e acabando na ditadura do relativismo contemporâneo, que massacra impiedosamente através do anticoncepcionismo abortifaciente, do aborto e da eutanásia, os crimes bárbaros do democratismo de 1789 são longos demais para serem merecedores de qualquer admiração.

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