26 de abril de 2011

A Degeneração Moral e o Distributismo


The bourgeoisie cannot exist without constantly revolutionizing the instruments of production, and thereby the relations of production, and with them the whole relations of society. … Constant revolutionizing of production, uninterrupted disturbance of all social conditions, everlasting uncertainty and agitation distinguish the bourgeois epoch from all earlier ones. All fixed, fast-frozen relations, with their train of ancient and venerable prejudices and opinions, are swept away, all new-formed ones become antiquated before they can ossify. All that is solid melts into air, all that is holy is profaned …
Marx

Neste post ficamos a saber que o RBR não deixou de se sentir menos indivíduo depois de trabalhar numa multi-nacional. Ora, isto para um individualista é o mínimo requisito necessário. um indivíduo continua a ser um indivíduo tanto numa sociedade capitalista como numa socialista: a diferença é que na primeira tem direita a primeiro e a último nome, na segunda atribui-se-lhe dois ou mais dígitos. A sua esfera de originalidade passa, depois disso, por algumas peculiaridades: no capitalismo é também consumidor, além de indivíduo, no socialismo é também indivíduo, além de consumidor.

Onde impera o personalismo católico queremos pessoas, não indivíduos.

A principal inovação do capitalismo foi inventar a guerra de classes. Isto começou obviamente devido à sua inerente fixação pelo lucro: só consigo recordar as palavras de Ortega y Gasset quando diz que não existem classes sociais (diferenciadas pela riqueza e posses), mas somente classes de pessoas (de acordo com as suas capacidades e a sua ética). A mesma burguesia que destruiu a metafísica e trocou-a pela moeda, tornou-a no instrumento de adulação social. O homem não resiste sem religião, e o sucesso económico parece funcionar tão bem para os macacos depilados como a Redenção, infelizmente.

Assim sendo, todos os valores sociais que não se mantêm num ambiente de puro materialismo, e as suas criações - a Família Patriarcal, a Comunidade Religiosa e Espiritual, a Terra e a Pátria - não resistem. Aquilo que nos torna Pessoas - a convenção social, o dever altruístico - desaparece lentamente para ser trocado pelas aberrações do Estado Moderno: o Estado-Nação, o Nacionalismo Étnico, a Democracia de Massas, a Sociedade de Consumo, o Estado-Providência, etc. Tudo é servido ao Homem em unidades maciças que o despersonificam. O homem torna-se num indivíduo, só perante o Estado. Esta mediocridade de homem, este semi-letrado arrogante que não goza de 20% da liberdade do seu antepassado de há seiscentos anos atrás, tem a barriga cheia e as vacinas em dia. Que bom. Quando as tem.

Belloc nunca fala em impossibilidade de harmonia social. Em parte alguma se contabiliza ou se procura definir o limite de empregados por uma empresa. Não interessava ao distributista uma empresa com um milhão de empregados - interessa o estatuto desses empregados. Interessa a mudança que o estatuto de operário sofreu do século XVIII para o XIX. Aquilo que o Corcunda escreve aqui é a impossibilidade de essa harmonia social acontecer num cenário de capitalismo puro. Aquilo que os austríacos insistem em provar é a capacidade de prover necessidades, entre ambas partes de um contrato, no momento da definição do contrato livre. É a falta de pensamento a longo prazo que eles não têm.

Se a vontade é o elemento preponderante num contrato, e um homem pode contratualizar sobre o mesmo bem várias vezes na sua vida, quem nos diz qual das suas vontades deve ser atendida, senão a limitação do livre-arbítrio? O que terá mais validade, um casamento em primeiras núpcias ou um em segundas? No caso de falência do dito, quem deve beneficiar dos seus bens? E se este, munido de uma completa liberdade anarco-capitalista, resolve deserdar os herdeiros do primeiro casamento, deve ficar tudo para os herdeiros frutos da segunda manifestação de vontade? Mas não foram os primeiros filhos uma consequência óbvia de um Vontade do falecido, e essa Vontade não criou expectativas na outra Parte e nos frutos dessa União? E não merece a expectativa das Partes ser protegida?

Qual é o austríaco/libertário que nos pode contabilizar a importância de Vontade que um homem insere em cada contrato, já que o Estado é para ir pró galheiro?? Porque é que não há juristas entre os austríacos? Ou contadores de vontades?
Penso que, no mínimo, contadores de vontades deviam ser outras das exigências para o Estado Mínimo do Mises.org. É que é exactamente este aprofundamento teórico que torna o texto do Corcunda impossível para a retórica economicista.
Enquanto quisermos continuar a acreditar numa natural coordenação de Vontades - o elemento hobbesiano da Escola austríaca - o libertarianismo continuará a chocar com o livre-arbítrio que diz defender. Basta complexificar um poucos as situações sociais que não aparecem nos manuais de economia para perceber que a Human Action de von Mises é de uma petulância arrogante.

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